terça-feira, 4 de abril de 2017

2ª Carta Aberta ao Sr. Ministro da Educação

Exmo Sr. Ministro da Educação

Deve ser do cansaço mas estou a ficar “um bocadinho” sem paciência para ouvir algumas coisas graves e ficar calada. Vou partilhar com V. Ex. a história que ouvi hoje de manhã, da boca de uma mãe que tem o seu filhote de seis aninhos no 1º ano de escolaridade.
A criança ia ter hoje um teste de matemática de final de período, razão pela qual a professora mandou ontem, de trabalho para casa, a realização de quatro fichas de matemática! Mas o espanto e o absurdo não ficam por aqui. Antes de cada teste a professora manda para casa a matriz do teste!!! Diriam os mais incautos que a intenção seria boa mas na realidade não o é. O objetivo desta matriz é que os pais trabalhem com os filhos no sentido de terem bons resultados no teste. Mas, afinal, as crianças do 1º ano não são avaliados pela construção das suas aprendizagens ao longo de todo o ano mas pelos resultados em testes sumativos? E isto faz algum sentido? E as crianças aprendem com a professora no dia a dia da sala de aula ou com os pais em casa? E as crianças que têm em casa pais que não saibam ensiná-las ou não possam trabalhar com os seus filhos?
E este é um exemplo numa pequena escola do 1º ciclo, às portas de Lisboa, mas semelhante a tantas outras. Não é só necessário, é mesmo urgente intervir perante esta falta de conhecimento pedagógico, comum a todos os níveis de ensino, porque ela não se resolve por decreto.
Apesar de estar em preparação um novo ciclo de avaliação externa das escolas, centrado na sala de aula, será impossível alterar, por essa via, os graves problemas que se vivem na grande maioria das escolas, tanto a nível das práticas de ensino como das práticas avaliativas.
É necessário trabalhar com as escolas e com os professores, nas suas salas de aula, não numa perspetiva inspetiva ou avaliativa mas sim no apoio e na formação em contexto.
De outra forma tudo continuará como tem estado nos últimos 150 anos.

Com os melhores cumprimentos.

sexta-feira, 31 de março de 2017

Novo governo, novas vontades e uma nova forma de estar na educação, deram-nos a esperança de que a tendência destrutivo-suicida tinha chegado ao fim.
Resta-nos agora esperar que as ideias que andam pelo ar desçam à terra para que possam ser discutidas e trabalhadas e aquelas que forem viáveis possam começar a ser a pouco e pouco implementadas nas escolas.
Aos velhos do Restelo que acham que não se pode fazer muitas ondas e o melhor é mesmo ficar tudo como está porque já chega de mudanças é altura de perguntar mas que mudanças? A nossa escola está imutável há 150 anos! Continuar com esta estagnação é sinónimo de matar a escola.

Carta Aberta ao Sr. Ministro da Educação  

Tenho acompanhado com muito interesse e expectativa as ideias do ministério que coordena mas estou com receio que algumas das soluções que venham a ser implementadas (ações de formação de curta duração para professores, por exemplo) sejam demasiado parecidas com soluções que já foram implementadas noutros países e que a investigação já revelou que poucas melhorias introduziram.
Quase já não existe nas escolas o trabalho colaborativo dos professores para intervir nas turmas, continua a trabalhar-se muito para o teste ou para o exame. Os alunos estão exaustos e frustrados porque gastam tempo e energias a estudar assuntos que não lhes dizem nada e dos quais pouco aprendem.
Continuo a achar que enquanto não for alterado o diploma da gestão e administração das escolas, instrumento de controle de governos anteriores e uma verdadeira força de bloqueio para as mudanças imprescindíveis para as escolas, nada se vai alterar. Alguma autonomia sem democracia é o sistema de gestão e administração das escolas que temos atualmente, completamente descontrolado e dependente do bom senso e formação em liderança do diretor. Quando estes estão ausentes temos instalado na escola um sistema de governança, ao sabor de “lobies” e “achismos”, pouco centrado naquele que deve ser o foco da escola – a aprendizagem dos seus alunos.
É urgente trabalhar os aspetos pedagógicos que colocam o aluno no centro e por isso a aprendizagem e a avaliação que se desenvolvem na escola têm que ser trabalhadas com os professores, fornecendo-lhes todo o conhecimento de que carecem.
Sugiro, por exemplo, que o ministério prepare um conjunto de professores para que possam ser colocados um em cada escola para ensinar a escola a mudar as suas práticas, a desenvolver os seus documentos estruturantes, a encontrar e definir o seu currículo local.
Falta muito conhecimento e formação na escola e muitas vezes os próprios documentos fundamentais para a definição da missão e visão da escola são como uma manta de retalhos de pedaços retirados daqui e dali, só para se dizer que está feito.
Estou a torcer, com muita força, para que a prestação da sua equipa seja um enorme sucesso. O futuro da nossa educação precisa muito!