Avaliação numa Perspectiva Formativa




Re: Análise do Trabalho do Grupo 3
por Isabel Abelheira - Segunda, 16 Maio 2011, 18:35 
Boa tarde  colegas do grupo 3,
  A principal razão porque escolhi o vosso trabalho para comentar é porque ele relaciona-se com o ciclo que lecciono.
De entrevista gostava de destacar alguns pontos:
. o professor refere que sente necessidade de avaliar os alunos durante todo o ano, mas que sente alguns constrangimentos (elevado número de alunos, burocracias, os alunos serem pouco autónomos, pouco empenhados no cumprimento das tarefas escolares e com baixo nível de responsabilidade e de concentração. 46), ou seja,  “a avaliação formativa aparece mais como o que deveria ser, mas que não o é” (Pinto & Santos, 2006, p. 98). E isto porque continua a verificar-se dificuldade “de sistematizar a informação em situações mais informais de avaliação, a sobrecarga de trabalho que a avaliação formativa acarreta porque aumentam os momentos de avaliação, uma desconfiança nos instrumentos não tradicionais e nos processos informais de avaliação” (idem, p. 100);
. o entrevistado considera como principal objectivo da avaliação formativa a identificação das dificuldades dos alunos, colocando-a em prática através de elogios, com o levantamento das incorrecções ortográficas e de outras incorrecções, realizando exercícios específicos conforme as dificuldades detectadas, questionando os alunos perante o trabalho e levando-os a concluírem do que devem fazer para o melhorarem. Podemos, deste modo, depreender que para este professor assume grande importância o feedback, quer o avaliativo, quer o descritivo, referidos por Gipps (1999 como citado em Pinto & Santos, 2006) dado que os alunos necessitam de orientações, a respeito de seu desempenho, para que possam melhorar as suas aprendizagens, aparecendo este feedback materializado, ou seja, na expressão de uma acção que cada aluno deve desenvolver para melhorar a sua aprendizagem. Segundo Jorro (2000 como citado em Pinto & Santos, 2006) os comentários avaliativos podem ser por juízos de valor (anotação como transmissão de informação) ou por questionamento, dando pistas e incentivando a reflexão por parte do aluno (anotação como diálogo);
. responde que os testes de avaliação servem para identificar os pontos fortes e fracos dos alunos/turma, levando à atribuição da classificação. Depreendemos, desta resposta,  que continua ainda vincado no discurso deste professor uma noção de avaliação como medida, “cuja preocupação central, em termos de avaliação, é o controlo do desempenho escolar dos alunos, no final dos tempos dedicados à aprendizagem” (Pinto & Santos, 2006, p. 98), traduzida “numa nota, para tomar decisões de retenção ou de transição de ano”  (idem, p. 98);
. encara o erro de uma forma positiva, dado que refere que a partir dele leva o aluno a reflectir sobre o que fez mal, fazendo uma regulação retroactiva,  que se caracteriza por incidir, “sobre a análise da tarefa realizada, procurando identificar os pontos fortes e fracos de uma dada realização” (idem, p. 109).
Do trabalho avaliativo gostava de destacar os seguintes aspectos:
 . o professor apresenta vários tipos de correcção: nuns leva o aluno a reflectir (Lê as palavras paro/parou. Qual é que escolhes para a frase?), noutros apresenta a palavra corrigida (Escreve-se daqui) e noutros parte da divisão silábica para que o aluno  entenda o erro. Segundo Jorro (2000 como citado em Pinto & Santos, 2006) os comentários avaliativos podem ser feitos por juízos de valor, ou seja, utilizando a anotação como transmissão de informação, devendo-se, no entanto, ter em atenção, como refere Santos (como citado em Pinto & Santos, 2006), que esta escrita avaliativa deve ser clara, para poder ser compreendida; apontar pistas para o futuro, de modo a que o aluno saiba como prosseguir; incentivar o aluno a reanalisar a sua resposta; não corrigir o erro, de modo a que cada o identifique e o altere; identificar o que já alcançou em termos positivos. Penso que nas suas anotações do trabalho corrigido não vemos presentes alguns destes cuidados.
Para terminar, queria apenas referir que a nível do 1.º ciclo, e da realidade que eu conheço, não é uma prática comum este tipo de correcção, sendo feita mais oralmente. Pelo menos, no meu agrupamento, foi só com a implementação do PAM (Plano de Acção da Matemática) que se começou a falar na necessidade de se registar por escrito as correcções/comentários avaliativos feitos oralmente aos trabalhos dos alunos.
Boa semana para todos
Isabel A


Seleccionei esta intervenção porque me pareceu uma análise muito completa sobre aquilo que são as concepções da professora e as suas práticas avaliativas.



Re: Análise ao trabalho apresentado pelo grupo 5
por Isabel Vieira - Terça, 17 Maio 2011, 23:36 
Caras colegas
Quero felicitar-vos pelo trabalho que realizaram e pela análise das situações concretas.
Considero que a professora observada tem a noção da importância da avaliação formativa mas revela algumas dificuldades em fazer a sua aplicação plena no processo de ensino aprendizagem.
Pareceu-me existir alguma confusão ao nível do conceito quando considera que a avaliação formativa só tem uma influência relevante no 1º ciclo do ensino básico pois ela é não só necessária como imprescindível em qualquer ano de escolaridade.
No vídeo não se consegue perceber qual o papel atribuído aos diferentes instrumentos de avaliação, o que seria quase impossível num tão curto período de aula, mas pela afirmação da professora os instrumentos servem mais para facilitar a sua actividade avaliativa do que para promover a implementação da avaliação formativa. Além disso, quando a professora refere “…diferentes momentos e situações de avaliação, tendo em conta os diferentes processos de aprendizagem, de forma a minimizar a subjectividade da avaliação” não significa que haja uma variedade nos instrumentos utilizados.
Discordo da professora quando aponta os quatro obstáculos à realização da avaliação formativa e discordo também da conclusão tirada pelas caríssimas colegas de que
“… ao se implementarem exames nacionais/provas de aferição, numa lógica normativa, o professor não tem margem de manobra para individualizar o ensino.”
Um abraço,
Isabel Vieira


Penso que a minha intervenção realça alguns dos aspectos a trabalhar pelos professores para que apliquem a avaliação formativa com os seus alunos. De facto não basta saber que existe e quais as suas características. É necessário conhecer como se aplica e, por fim, proceder à sua aplicação na avaliação das aprendizagens dos seus alunos.



Domingos Fernandes (2008) analisou um conjunto de investigações realizadas com professores dos três ciclos do ensino básico e do ensino secundário, apesar de nas mesmas terem participado um número relativamente reduzido de professores, que foram entrevistados para estudos de caso e, cujas aulas foram, em muitos casos, observadas. Dessa análise resultou um conjunto de considerações que passo a apresentar.
Em geral todos os participantes nas investigações dão uma clara ênfase à avaliação de conhecimentos específicos das disciplinas que leccionam. Em particular aos factos, conceitos e procedimentos constantes nos livros de texto. Competências de natureza transversal, como, por exemplo, as do domínio da resolução de problemas ou do domínio das relações sócio-afectivas, são raramente valorizadas e, consequentemente, raramente avaliadas.
Os testes são claramente os instrumentos mais utilizados e valorizados pelos professores, que tendem a avaliar exclusivamente conhecimentos correspondentes aos conteúdos de natureza académica constantes nos programas.
No entanto, estes professores acabam por recolher uma quantidade significativa de informação sobre o desempenho e sobre os saberes dos seus alunos, proveniente de observações e de conversas informais, que muito provavelmente é utilizada de forma algo aleatória, sem se inscrever numa estratégia coerente e deliberada de avaliação.
A grande maioria dos participantes nas investigações concorda com a necessidade de diversificar as estratégias, técnicas e instrumentos de avaliação. Verificou-se , no entanto, que a práticas de muitos professores não eram consonantes com aquela necessidade.
Outro resultado interessante é o de que a maioria dos professores participantes nas investigações não explicitam os critérios de avaliação junto dos seus alunos. É fundamental que os critérios de avaliação sejam partilhados e até discutidos com os alunos. A avaliação tem de ser transparente e os critérios ajudam os alunos a organizar o seu estudo, contribuem para os motivar a aprender e a delinear estratégias de aprendizagem e de envolvimento nas tarefas que lhe são propostas.

Bibliografia
FERNANDES, D. (2008). Avaliação das aprendizagens: desafios às teorias, práticas e políticas. Lisboa: Texto Editora.