2ª Carta Aberta ao Sr. Ministro da Educação
Exmo Sr. Ministro da Educação
Deve ser do cansaço mas estou a ficar “um bocadinho” sem paciência para ouvir algumas coisas graves e ficar calada. Vou partilhar com V. Ex. a história que ouvi hoje de manhã, da boca de uma mãe que tem o seu filhote de seis aninhos no 1º ano de escolaridade.
A criança ia ter hoje um teste de matemática de final de período, razão pela qual a professora mandou ontem, de trabalho para casa, a realização de quatro fichas de matemática! Mas o espanto e o absurdo não ficam por aqui. Antes de cada teste a professora manda para casa a matriz do teste!!! Diriam os mais incautos que a intenção seria boa mas na realidade não o é. O objetivo desta matriz é que os pais trabalhem com os filhos no sentido de terem bons resultados no teste. Mas, afinal, as crianças do 1º ano não são avaliados pela construção das suas aprendizagens ao longo de todo o ano mas pelos resultados em testes sumativos? E isto faz algum sentido? E as crianças aprendem com a professora no dia a dia da sala de aula ou com os pais em casa? E as crianças que têm em casa pais que não saibam ensiná-las ou não possam trabalhar com os seus filhos?
E este é um exemplo numa pequena escola do 1º ciclo, às portas de Lisboa, mas semelhante a tantas outras. Não é só necessário, é mesmo urgente intervir perante esta falta de conhecimento pedagógico, comum a todos os níveis de ensino, porque ela não se resolve por decreto.
Apesar de estar em preparação um novo ciclo de avaliação externa das escolas, centrado na sala de aula, será impossível alterar, por essa via, os graves problemas que se vivem na grande maioria das escolas, tanto a nível das práticas de ensino como das práticas avaliativas.
É necessário trabalhar com as escolas e com os professores, nas suas salas de aula, não numa perspetiva inspetiva ou avaliativa mas sim no apoio e na formação em contexto.
De outra forma tudo continuará como tem estado nos últimos 150 anos.
Com os melhores cumprimentos.